Blog do Notre


Gamificação como ponto de partida para produção de texto

Por

Você já ouvir falar em “gamificação”? O termo designa um conceito que, nos últimos tempos, foi apropriado pelo cenário escolar e empresarial e que pode ser definido pelo “uso de mecânicas, estéticas e pensamentos dos games para engajar pessoas, motivar a ação, promover a aprendizagem e resolver problemas”, segundo o pesquisador especialista no assunto Karl Kapp (2012).

Se isso é verdade, podemos “gamificar” tudo — ou quase tudo — em nossas vidas. Por exemplo: se quisermos “gamificar” uma simples ida ao supermercado, com finalidade de fazer compras rotineiras, uma boa ideia é fazer uma lista de itens a serem encontrados pelo seu filho: quanto mais difícil de se encontrar aquele item, mais “valor” aquilo teria. Ao final, há a recompensa combinada e o ciclo do jogo se finaliza. As etapas de motivação, aprendizagem e resolução de problemas foram contempladas em um projeto simples de “gamificação” de uma atividade rotineira.

Mas hoje o assunto é sala de aula e quem ganhou destaque foi um jogo chamado “Dixit”, um dos queridinhos da nova geração de jogos de tabuleiro. “Dixit” (que, em latim, significa “ele disse”) é um jogo de criação de narrativas, a partir de cartas com ilustrações diversas e, na maioria das vezes, surreais — aspecto que contribui para que a imaginação dos jogadores ganhe asas. Foi desse ponto de partida que iniciamos a criação de uma redação com as turmas do 7º ano. Mas como fazer para jogar no contexto de ensino remoto?

Pensando em diversificarmos as estratégias desse tipo de ensino a distância, criamos uma adaptação do jogo: no original, cada jogador deve manifestar algum tipo de comunicação — gesto, som, frase, palavra etc — que tenha a ver com uma das cartas de sua mão; em nossa adaptação, cada aluno deveria escolher uma, dentre 5 cartas prévias colocadas “na mesa”, e dar-lhe um título misterioso, sem que nenhum outro colega soubesse qual foi a carta escolhida — o título foi seguido da escrita de um parágrafo curto, introdutório à redação que viria a ser feita e avaliado como nota processual.

No segundo turno, os alunos leram 5 conjuntos com 10 títulos diferentes, sem saber a quais cartas cada conjunto se referia. O aluno deveria “votar” em umas das 5 cartas, referentes aos títulos que leu. Lembre-se que os títulos deveriam ser misteriosos, portanto, não óbvios. Ao fim da votação, soltamos os resultados na mesma aula e comemoramos. Não é que a maioria da turma acertou quais eram as cartas? Isso mostra que os alunos estão atentos e sintonizados com a criatividade da turma, além de terem se permitido “viajar na imaginação”.

A última etapa do jogo foi redigir a redação em si: a proposta era escrever um conto fantástico, em que os elementos da carta escolhida fossem centrais para a construção do conflito, clímax e desfecho do texto. A produção foi feita individual ou em dupla e, no segundo caso, os integrantes escolheram qual dos parágrafos iniciais estava melhor — os parágrafos foram escritos individualmente, como atividade processual, antes da atividade conjunta. Assim desenvolveram o texto a ser entregue para nota final.

No fim, o vencedor é aquele que deu asas à sua imaginação, cumpriu a proposta de texto e reescreveu sua redação, aprimorando sua habilidade de escrita e criatividade.

Confira abaixo alguns textos muito interessantes e que obtiveram nota acima de 8,5:


1) Isabela Lett – 7º B:

Nuvens

Chegamos a 2020 e de repente, em março, a vida mudou rápida e urgentemente. As pessoas se tornaram perigosas, são contagiosas; muitas estão morrendo. Um vírus agora é o dono do mundo e dita as novas regras de convivência. Não se pode mais ir à escola, nem sair nas ruas, não podemos mais nos tocar, nem nos beijar. Estamos presos em casa. A vida se transformou no que consigo ver através da janela do meu quarto.

Nada acontece na rua e até onde a vista alcança tudo está parado e vazio. Então passo os meus dias no céu. Há montes de nuvens no céu, e nos momentos de maior tédio me transformo em uma escultora de nuvens. Basta uma inspiração e, em um voo acrobático, a massa disforme e fofa vai se transformando em ilhas dependuradas, insanas, se tingindo de arco-íris. A meu comando, nuvens voam para cima, como um espírito de águas trucidadas, evaporadas pelo Sol, ganham novas formas, se fundem e se dispersam. Num minuto são pássaros, no outro são borboletas num atropelo que seguem somente a meus caprichos. Esculpo um bando de papagaios para um lado, gritando; em resposta, crio depois, um bando de tucanos que, ao pousar, parecem estudar o equilíbrio entre o corpo e os grandes bicos. Então mais borboletas invadem o cenário, bandos e mais bandos, amarelas e vermelhas, tingidas pelo Sol que já vai se pondo. Minhas esculturas me ungem e depois avançam pelo céu no seu voo desarrumado e trêmulo pelo vento, com todo o capricho do meu desenho, como flores tontas caídas na floresta sobre os caminhos úmidos.
Esculpir nuvens é um passatempo maravilhoso, um equilíbrio entre o idílico e o trágico, entre o mais suave segredo da água que deixou de ser mar e uma menina de 12 anos que perdeu sua liberdade, entre o mais tímido murmúrio entre quatro paredes e o grande estrondo do trovão dessa massa se precipitando no ar. Raras vezes, um avião passeia através de mim e de minhas obras, mas ele ronda alto e é incapaz de alterar as formas que dei para minhas nuvens.

E passo assim todos os dias dessa longa quarentena. Toda noite retorno relutante à terra, com a sensação de que estou me equilibrando muito próxima ao abismo. E pela manhã retorno ao céu, vagando entre minhas esculturas de nuvens, que parecem algodão, entre meus pássaros, minhas cobras, veados, antas e onças fingindo não ver bem ao lado desse abismo fundo de medo e terror provocado pelo COVID-19.

 

2) Leonardo Zanineli – 7º C:

Construtor de sonhos

A gente era muito pobre. Nossa casa era velha e mal acabada. Meu pai tinha ido trabalhar e minha mãe está desempregada há mais de um ano. Na hora do almoço, fui levar comida para ele, já que estava trabalhando perto de casa. Eu o vi em cima de uma construção e com umas ferramentas na mão. Ele agradeceu e eu fui pra casa. Depois de almoçar, deitei na cama, pois na noite anterior não tinha dormido muito bem. Adormeci rápido.

Quando acordei, eu não estava na minha cama, eu estava deitado na grama, em um campo quase sem árvores. Eu vi meu pai, mas ele estava longe. Tinha alguns pássaros no céu, mas eles eram maiores que o normal. O que estava acontecendo?

Eu olhei para mim, mas eu estava normal. O cheiro da grama molhada era forte. Me levantei, estava fraco. Eu tentava me aproximar do meu pai, mas quanto mais corria mais ele se afastava. Eu gritei para ele, e ele me respondeu animado, como se algo incrível estivesse acontecendo. Os pássaros gigantes continuavam voando por aí, e cada vez tinha mais pássaros.

Eu andei por ali, por aqui, mas nada mudava. Uma ou outra árvore, grama cortada e os pássaros brancos. Eu estava com fome, então subi em uma árvore para comer alguma fruta. Mas, quando eu subi, não tinha nenhuma fruta, tinham ninhos dos pássaro brancos. Peguei um filhotinho, era leve. Meu pai apareceu atrás de mim, levei um susto. Ele disse para segui-lo, e fomos até uma casinha de madeira. Ele disse que era a casa dele, mas era bem diferente da nossa casa.
Ele me deu uma fruta que eu nunca tinha visto, mas mesmo assim eu comi. Perguntei para ele sobre os pássaros, e ele me levou para um jardim cheio de pássaros, borboletas, joaninhas e todos os insetos existentes, todos brancos, igual nuvens. Eu estava muito confuso. Ele disse que ele mesmo que fez esses animais. Eu me aproximei de um pássaro enorme. Meu pai me colocou em cima dele e ele saiu voando. Era rápido.

De cima eu via todo aquele campo. Plano e verde. Ele voou tanto que chegamos em um mar. As ondas estavam calmas e a água bem azul. O dia tinha passado rápido, já estava escurecendo, e eu estava com sono. Me abracei ao pássaro e dormi.

Quando eu acordei, estava na minha cama, na casa velha e mal acabada, onde morava. Achei que tudo tinha sido um sonho, e não sabia quanto tempo eu tinha dormido, porque era a mesma hora de quando dormi no meu quarto. Me levantei triste de tudo aquilo não ser real, e fui até a cozinha onde minha mãe estava. Dei um beijo nela e olhei pela janela. O pássaro enorme e branco ainda estava lá.

 

3) Izabela Holanda e Luisa Mota – 7º A:

O mundo de ponta cabeça

Rodrigo foi viajar com sua família, para a casa do seu avô lá no Rio das Pedras, nas férias de verão. Quando chegaram lá, Rodrigo implicou que queria ir para casa, mas sua mãe não deixou o menino ficou tão bravo que criou um plano, para tentar voltar para a cidade escondido, e para chegar mais rápido ele teria que ir pela floresta.

Quando estava escurecendo, ele entrou em uma caverna para se aquecer, aí percebeu que a caverna tinha uma saída pelo outro o lado. Como ele era curioso, entrou naquela passagem. Do outro lado, era idêntico ao mundo normal, mas era tudo de ponta cabeça, também havia criaturas gigantes, estranhas, desconhecidas. Ele não sabia como voltar, estava totalmente assustado. Então tentou voltar pela mesma passagem, mas precisava de uma criatura mágica para abrir o portal.

Ele começou a chorar de nervoso, e quando olhou para o lado havia um gigante, que queria tentar acalmá-lo e conseguiu. O gigante era uma das criaturas mágicas que poderia abrir o portal, e Rodrigo conseguiu voltar. Ele agradeceu a criatura, e eles dois viraram amigos, e ele prometeu ao gigante que guardaria o segredo.

Quando voltou para a casa de seu avô, implorou pra ficar lá, sua mãe estranhou, mas aceitou. E desde aquele dia ninguém sabia o motivo de Rodrigo querer ir tanto para a casa de seu avô, mas ia em todas as férias de verão.

 

4) Cléo Chiarelli e Lavinia Elia – 7º D:

O encontro com o reino perdido nas nuvens

Era um domingo nublado, um pouco frio. Eu estava no sítio do meu avô, comendo uma saborosa maçã e enrolada em uma das cobertas mais quentinhas debaixo de uma grande árvore. Neste mesmo dia eu havia sonhado com um reino escondido atrás das nuvens. E eu queria representá-lo em um quadro. A maioria das pessoas não gosta desse tipo de tempo, mas pra mim ele era inspirador porque eu sempre imaginava o que havia por trás de todas aquelas nuvens, que naquele dia pareciam bravas.
E de repente a inspiração surgiu. Eu estava sem minhas telas e tintas. Então peguei um graveto que havia ao meu lado e o mergulhei em uma pequena poça de frutas esmagadas. Eu estava pintando. E foi naquele momento que eu ouvi algo vindo de um arbusto perto dali. Eu estava com medo porque não sabia o que era, mas mesmo assim fui checar por pura curiosidade. Enquanto me aproximava, uma grande escada se criou em minha frente, diretamente para as nuvens. Eu decidi então subi-la para ver aonde ela me levaria.

Assim que cheguei acima das nuvens, havia um imenso céu ensolarado, onde estavam todos os grandes pintores da história. Fui recebida por Doménikos Theotokópoulos, mais conhecido como El Greco, que me mostrou todas as maravilhas daquele paraíso. Lá ele também me falou sobre um pincel que torna tudo que pintamos em realidade. Eu logo perguntei se eu poderia ter um, e ele me disse que aqueles eram pincéis comuns e que eles só funcionavam de forma mágica porque os seus donos acreditavam que tudo era possível com um pouco de criatividade e imaginação.

Eu e Michelangelo conversamos um pouco e ele me contou algumas histórias de sua vida. Eu contei para ele como eu amava e me inspirava na natureza. Então, ele e Van Gogh me levaram para um jardim, um imenso e iluminado jardim. Que eles mesmos haviam pintado no passado, chamado de “O Jardim Florido”. Ele cheirava a rosas, tinha um ar extremamente puro. Eu me sentei, peguei o meu pincel e comecei a pintar em um belíssimo quadro branco. Van Gogh me ajudou, me deu muitas dicas. A principal foi expressar sentimentos e força em minhas obras.

Após muito tempo pintando, eu acabei. Eu mostrei a minha obra pronta para eles. Eles disseram que eu tinha muito talento e que devia explorar as minhas habilidades. Falaram também que eu já podia ir, eu já sabia tudo que eu tinha que saber e que eu só tinha que acreditar em mim mesma. Bom, foi o que eu fiz. Eu voltei para casa e muitos anos depois eu tive o meu reconhecimento graças as minhas maiores obras: “As Duas Fridas” e “A Coluna Partida”.

 

5) Theo Baptista – 7º E:

Era o 53º dia de isolamento social. O assunto na televisão continuava o mesmo, Covid-19. Não é possível sair e, por isso, estamos tendo que nos reinventar todos os dias dentro de casa. Assim, despertou dentro de mim a paixão pelas tintas e pelas telas. Fui da terra ao céu e das telas às paredes. Fiz do meu quarto um horizonte azul, com as nuvens em formas de animais usando a minha tinta branca. Durante o dia as nuvens se mexiam e se transformavam em muitas aventuras, onde eu me divertia com meus amigos mágicos. Eles eram a minha alegria. O tempo está passando e o meu horizonte agora é o meu quarto e meus amigos que nasceram das nuvens.

Esses meus amigos eram muito especiais, o primeiro que me apareceu foi o maior elefante do mundo, seu nome era Dunphy, ele me ajudava a pegar as bolas com que nós brincávamos quando perdidas, que eram primeiro avistadas por Clarice. Falando nela, ela é um pássaro muito bonzinho e que também conseguia voar a alturas enormes, até espaciais. Clarice sempre avistava coisas perdidas e novos amigos para se brincar. E agora vamos falar o mais engraçado de todos !!!!
Seu nome era Geary, ele era o mais legal de todos de longe, ele era divertido, contava as melhores piadas, nós sempre jogamos bola depois de eu fazer meus deveres online de matemática, explorávamos muito o mundo das nuvens também, sempre tinha novas coisas para ver e pessoas novas para conhecer. Ênfase para Lily, irmã de Geary, que é tão engraçada quanto ele, mas mora em outra ilha de nuvens e, por isso, não as vemos tanto.

Agora fico aqui me perguntando, quando teremos novamente todo aquele céu lindo abraçando todo mundo para eu poder apresentar meus amigos do céu para os meus amigos da escola. Quando será que isso vai acontecer?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.