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A Reforma do Ensino Médio

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Reformar o Ensino Médio é uma necessidade e um consenso entre todos os que trabalham ou vivem a educação nesta etapa. Porém, a Lei 13.415 de fevereiro de 2017, que trata deste tema, já nasceu deficiente, pois não partiu de um estudo sério sobre as carências e nem foram devidamente consultados os professores, alunos e famílias – o que não seria algo simples.

Em 2015, 40% dos jovens brasileiros de 17 anos estavam fora da escola, quando no ano 2000 este índice era de 34% dos estudantes com esta mesma idade, segundo o PNAD. Este dado é extremamente relevante e suficiente para justificar a necessidade desta reforma, sem citar o currículo defasado que temos no Brasil e que obriga os alunos a estudarem uma questionável quantidade de conteúdo.

Para Roberto Catelli, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a pressa para se fazer esta reforma é a “imposição de um modelo que tem como pilar o barateamento e a privatização da oferta do Ensino Médio no país. Por trás do discurso difundido em campanhas de rádio e televisão de que o novo Ensino Médio permitiria ao jovem fazer escolhas dentre uma ampla oferta de disciplinas e áreas de conhecimento nas escolas, esconde-se o fato de que as redes e escolas podem simplesmente fazer o inverso, ou seja, oferecer as disciplinas obrigatórias e somente ofertar a mais aquilo que for possível conforme as suas possibilidades”.

Vale lembrar que vivemos um apagão de professores que afeta diretamente e de modo especial a rede pública, onde faltam professores de diversas disciplinas. A lei, conforme está sendo pensada, oferece uma flexibilidade interessante para os colégios, mas também resolve (de maneira simplista e equivocada) um problema das redes estaduais – não tendo professores para algumas disciplinas, serão elaborados itinerários que não contarão com elas. Ao invés de se oferecer mais aos alunos, na prática, será oferecido menos.

Uma possível redução de custo viria com a instituição do ensino à distância, entregue para empreendedores mais preocupados com o faturamento de suas empresas do que com a aprendizagem dos alunos. Se no Ensino Superior o aluno revela imaturidade para estudar sozinho em casa, cumprir prazos e a evasão é alta, imaginemos como será no E. Médio. Além da falta da convivência e da interação, tão importante para o processo educativo de nossos jovens. Dizer que o ensino à distância seria uma forma de combater uma suposta doutrinação dos professores é uma falácia de quem não conhece a fundo o que é e como se faz educação,

Para nós da rede privada, os vestibulares continuarão a balizar a organização do currículo. As universidades públicas são autônomas e não se submetem, obrigatoriamente, às exigências e orientações do MEC e, assim, não serão de imediato atingidas por qualquer tipo de reforma. E, se elas não mudarem os seus processos seletivos, as escolas sérias de Educação Básica não mudarão também a sua prática.

Alguns colégios privados correram para anunciar alterações em suas propostas pedagógicas, em nome da reforma, antes mesmo dela ser aprovada. Marketing enganoso. E depois de aprovada a reforma, os estados ainda terão dois anos de prazo para as devidas regulamentações – o Ensino Fundamental e Médio estão sujeitos também às leis estaduais. Portanto, é triste dizer, mas nada ainda a comemorar.

Por Tobias Ribeiro, Coordenador Pedagógico do Ensino Médio

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